Friday, June 23, 2006

DESPERTAR

Ergui a taça do vinho e num só gole
Traguei a essência das palavras, engoli
Gota-a-gota as frases deslizaram-se adentro
Sereno, repudiei as faces carentes de alento

Ergui a voz e soltei as frases dilacerantes
As palavras que ansiavam, escutaram, inertes.
Os gestos imobilizaram-se, olhares húmidos!
Do verbo, deslizei-me então nos gerúndios:

Querendo, lutando, acreditando, negando
Provoquei, invocando o medo sonegado
Dos murmúrios pedi barulho, agitação
Dos olhares vagos se projectaram acção

Ergui o olhar e vislumbrei um céu nubloso
O prenúncio de uma noite no fundo do poço
Invoquei as divindades num parco discurso
Regozijei-me por seguirmos outro percurso!

Waldir Araújo

Monday, June 19, 2006

RAIAR

Desabrochei nas vésperas do cântico da liberdade
Cresci pueril emaranhado nos ecos de uma epopeia
Acreditando, por ser acreditar a grande verdade
Entoei os cânticos de louvor à morte da centopeia

O tempo emprestou-me a tenacidade da dúvida
E do tempo, aliado me fiz e da dúvida a espada
Segui os rastos da vontade de entender tal vida
A realidade ofertou-me uma dureza pasmada

Questionei os dogmas para saber mais além
Cruzei saberes e dissabores na alma atormentada
E do além ainda distante, do saber muito aquém...
Exorcizei com versos a tormenta alimentada

No presente, nada mais é do que o não adquirido
Nada mais se disfarça para dúvidas semear
No presente, não mais vago é o caminho escolhido
Ladeando a realidade sim, com o sonho no limiar

Waldir Araújo

Wednesday, June 14, 2006

INICIAÇÃO DO "SER"

Rasga os pergaminhos
Rompe com os mesquinhos
Inverte esta desordem
Cães ruidosos não mordem

Vento, sopra de avesso
Sem poeira nem arremesso
Todo esse querer é livre
Livre, com garras de tigre

Entoa o tal cântico
Que desafia o mítico
Atravessa o deserto
Vai, destino incerto

Revoluciona o tal verbo
Da palavra, torna-te servo
Do horizonte, fia o futuro
Por fim, salta do muro!

Waldir Araújo